Estava desempregado há cerca de um ano quando, por brincadeira, foi
desafiado por alguns amigos a criar o seu próprio negócio. Já que Filipe Gomes fazia
alguns recados, pois tinha bastante tempo livre, então por que não alargar o
leque de destinatários e tarefas? E assim nasceu o conceito “Deixa que eu vou”
– para resolver as coisas que não pode ou não quer fazer.
Há várias palavras para descrever
a actual ocupação profissional de Filipe Gomes: assistente pessoal, mordomo,
facilitador. Mas nenhuma o caracteriza tão bem como “desenrascador” – pois é
exactamente isso que ele pretende fazer: desenrascar as pessoas naquelas
tarefas ou recados para os quais não existe tempo ou pachorra. Ele vai às
compras por nós. Ele trata da lista de presentes de Natal. Ele arranja-nos um
jardineiro, um carpinteiro, um electricista para os problemas lá de casa. E
quando os serviços de apoio ao cliente agendam a reparação da máquina de lavar,
por exemplo, entre as 14h e as 18h e aparecerem em casa às 17:58? Já não
precisa de faltar ao trabalho e dar o dia como perdido – o Filipe trata disso,
qual Cristiano Ronaldo da resolução dos problemas do quotidiano.
Nasceu em 1969, em Guimarães, “no
berço da nação, a olhar para o D. Afonso Henriques.” Abandonou os estúdios para
fazer rádio no estrangeiro, meio que faz parte da sua vida desde 1986, tendo,
para isso, frequentado uma formação no Cenjor – Centro Protocolar de Formação
Profissional para Jornalistas e trabalhado em algumas rádios locais e no grupo
Media Capital. Entretanto, passou por um período de desemprego, aproveitando o
tempo para ajudar os amigos em algumas tarefas. Até que esses favores começaram
a ser levados a sério: “começaram a pressionar-me para eu tornar esta
actividade, que eu já fazia, num negócio. Numa tarde fizeram logos, fizeram a
página do Facebook. E eu ria-me. Não era que não acreditasse na ideia, mas não
estava com mindset para fazer aquilo.
Mas à medida que íamos falando, mais sentido fazia.” O seu percurso na rádio
permitiu-lhe estabelecer uma rede de contactos muito variada e não há área
profissional onde Filipe não tenha conhecimentos – lá diz o ditado que quem tem
amigos, tem tudo.
Há serviços que são cada vez
menos pedidos, como a questão dos recados: “por um lado, porque as pessoas têm menos
dinheiro, por outro lado, porque o Porto não é tão grande quanto isso.
Consegues fazer as coisas com relativa facilidade. O que mais me têm pedido é
tomar conta de animais na casa das pessoas.” E a tarefa até tem corrido bem:
“os gatinhos arranham-me enquanto são pequeninos, por brincadeira e saio de lá
todo esgadanhado, porque também gosto de brincar com eles.” O pedido mais
invulgar que recebeu foi de “uma senhora que me pediu para ir buscar uma
encomenda. Pedi-lhe a morada e o ponto de recolha era uma sex shop. O meu primeiro impacto foi achar aquilo um pouco
estranho. Mas enquanto me dirigia para o sítio pensei isto faz todo o sentido. Claro que entrei na loja cheio de cartões
de visitas, porque se calhar a maior parte das pessoas não gosta de ser vista a
entrar. Entretanto falei com a senhora da loja e ela disse que dá jeito ter o
espaço aberto, mas que em 80% dos casos nunca vê os clientes, porque são entregas pelo
correio.” Não aceita serviços ilegais, como é óbvio, nem aqueles que lhe
pareçam dúbios, como o pedido para transportar a filha de um casal divorciado para outro ponto do país. De resto, “o limite é
o que as pessoas estiveram dispostas a pagar.” O pagamento de referência são de
10€ por hora, mas há sempre um atençãozinha no valor final.
A Deixa que eu vou tem sido bastante referida em diversos órgãos de
comunicação social, mas isso não se reflecte no aumento do número de clientes.
Para Filipe, o que funciona “neste tipo de negócio, com o grau de confiança que
é preciso, é tu utilizares e recomendares aos teus amigos. O passa-a-palavra
resulta muito melhor do que aparecer.” O que a visibilidade mediática
lhe trouxe, surpreendentemente, foi “mais de 100 pedidos de franchising, dois dos quais de Angola e três do Brasil.” Apesar de
fornecer conselhos gratuitos, este não é um caminho que se veja a percorrer “eu
ajudo no que for preciso, mas não usem o meu nome, porque o meu nome é o meu
património.” Tem trabalhos quase todos os dias e garante que todos os dias
aprende alguma coisa. Para o futuro, “terei que disponibilizar um terminal
portátil de MB. Também era porreiro ter novamente uma scooter, porque tinha uma
e vendi-a uns 15 dias antes de começar este negócio – é a prova de que não
imaginava fazer isto.” Isso e “aumentar a rede de contactos – é fundamental.”
Facebook Deixa
que eu vou
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