Tem apenas 24
anos, mas no currículo já conta quase 40 medalhas internacionais e outros
tantos títulos nacionais. Treina todos os dias e abdica de muita coisa pelo
sonho da canoagem. O reconhecimento público veio com a medalha de prata nos
Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, na modalidade de K2, mas garante que
continua a ser o mesmo Fernando Pimenta, que só quer “conseguir os melhores
resultados possíveis para Portugal”.
A entrada de Fernando Pimenta no mundo do desporto
começou muito cedo e pela natação. Anos depois decidiu experimentar algo
diferente nas férias de Verão da escola – claro que tinha que ser um desporto
aquático, ou não fosse Fernando natural de Ponte de Lima, com o rio praticamente
como vizinho. Optou, então, pela canoagem e acordou uma paixão que não sabia que
existia. “Preenchia-me mais. É um desporto onde existe outro convívio com a
natureza. Criei também um grupo de amigos que me ajudou a decidir” que era na
canoagem que estava o seu futuro. Por isso, treina todos os dias, duas vezes
por dia, num total de 6 a 7 horas, faça chuva ou faça sol. Começa a preparação
no ginásio, passando pela piscina, corrida, BTT e ciclismo. Só depois pega no
kayak, coloca-o em ombros, e entra na água. Aí, a concentração é máxima e
Fernando desliza rio acima, rio abaixo e faz tudo parecer tão fácil. Mas não é.
Este atleta, consciente de que a canoagem é “um desporto bastante restrito”,
abdica das saídas com amigos, de beber um copo, ou dois, e evita cometer uma
loucura gastronómica. “Um atleta de alta competição precisa de uma noite de
sono de 9-10 horas. Em termos alimentares temos que ter muitos cuidados. No
nosso desporto o peso influencia bastante. E quanto mais bem nutridos
estivermos, melhor nos apresentamos no treino.”
Durante o pouco tempo livre que tem, este vencedor aproveita “para descansar, passear, ver filmes, para estar com os
amigos e família. Gosto de filmes de acção, de comédia e bastante de desenhos
animados - acho que qualquer pessoa gosta de desenhos animados. É sempre bom
recordar a infância.” Além de atleta de alta competição, Fernando estuda Reabilitação Psicomotora, na Universidade Fernando Pessoa, em Ponte de Lima.
Apesar da juventude, no palmarés conta com quase 40
títulos nacionais e 40 medalhas internacionais. Entra em cada competição para
ganhar e nervosismo é coisa que não lhe assiste. Não tem rituais especiais nem
grandes cuidados adicionais no dia anterior a uma grande competição, a não ser evitar
a exposição ao frio ou ao calor. Uma estratégia que parece resultar dada a
quantidade de vitórias alcançadas. A mais mediática é, sem sombra de dúvida, a
medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, na modalidade de K2
1000 metros, que conquistou com o canoísta Emanuel Silva, não só “por causa do
valor que tem, mas também por se tratar de uma prova para a qual há milhares de
atletas a trabalhar para chegar lá. Conseguir ir aos Jogos Olímpicos já é uma
tarefa muito complicada, quanto mais conseguir uma medalha, porque nós estamos
a bater-nos com atletas que têm outros apoios, outra estrutura à sua volta,
países que apostam mais no desporto. Mas sabemos que eles são constituídos da
mesma matéria que nós. E nós também temos aquela vontade de ganhar.” Esta
medalha apresentou o Fernando Pimenta a muitos portugueses que até então
desconheciam o seu trabalho, contudo, o atleta, não se deixa iludir pela
suposta fama, nem toma nada como garantido. Pelo contrário, “até trabalho mais
e com mais rigor, porque sei aquilo que tive que passar para lá chegar. Há dias
disseram-me quantos mais quilómetros estiveres
aqui a fazer, do outro lado há outro a fazer mais que tu.” A comunicação
social também está mais alerta sobre a carreira deste ponte-limense, o que
ajuda a divulgar a modalidade no geral, e o trabalho dos canoístas, em
particular, seja nos bons ou nos maus momentos, porque esses também existem e
assumi-los é tornar-se num melhor profissional. “É preciso mostrar que nós, os
atletas, não somos máquinas e não estamos sempre no topo da nossa forma. E não
podemos estar todos os dias a conquistar medalhas, porque isso é impossível.
Teríamos que ser um super atleta e mesmo um super atleta teria as suas falhas.”
Já competiu ao lado de alguns dos seus ídolos,
nomeadamente em 2011, na final da Taça do Mundo. “Foi super engraçado quando eu
cheguei à final. Olhei para um lado, olhei para o outro e pensei o que é que eu estou aqui a fazer?” Resultado: conquistou uma medalha de prata. A canoagem está-lhe no sangue,
movimenta-lhe os músculos, motiva-lhe a mente. Não é, então, difícil de
imaginar os desejos para 2014: “Tentar conquistar medalhas para deixar os
portugueses contentes, deixar os meus amigos orgulhosos. Continuar a conseguir
excelentes resultados. Acho que estou no bom caminho. Só espero conseguir
concretizar outros objectivos e concretizar o meu maior sonho: ir aos Jogos
Olímpicos (2016, no Rio de Janeiro) em K1 e conseguir um bom resultado.” Boa
sorte, Fernando!
A polémica
com a Federação Portuguesa de Canoagem
Nos últimos meses, veio a público um diferendo
entre Fernando Pimenta e a Federação, que culminou com a recusa do atleta em
vestir a camisola nacional. Tudo porque em 2011, Fernando conseguiu o
apuramento olímpico em K1. Porém, para tentar apurar mais um atleta português
para os Jogos Olímpicos, a Federação pediu-lhe que tentasse o apuramento em K2
– um objectivo concretizado. O problema veio depois: “ou competia em K2 ou
simplesmente não competia. E acho que ninguém gosta de trabalhar desta forma em
que é tudo obrigado.” Entretanto, foi-lhe prometido que caso vencesse a
selectiva nacional em 2013, teria a sua oportunidade em K1. Venceu essa e
muitas outras provas no ano passado e a Federação recusava-se a cumprir com o
combinado – Fernando continuava sem vestir a camisola da selecção a título
individual. “É por isso que eu trabalho e abdico de muita coisa. Não só
representar da melhor forma Portugal e a minha vila, mas também sentir-me
satisfeito com aquilo que faço. Acho que isso também é um ponto essencial: o
atleta estar motivado para fazer alguma coisa.” Com a entrada de novos
elementos na Direcção e na estrutura de técnicos da Federação (que conta agora
com o treinador de Fernando Pimenta, Hélio Lucas), esperemos que a contenda se
resolva. Portugal e a canoagem só têm a ganhar.
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