Em 2003
começaram a trabalhar juntas e rapidamente se tornaram amigas. Como tantas
outras partilham sonhos, vontades e aspirações. Da amizade entre Cláudia Cunha
e Paula Azevedo nasceu o projecto Idades com história, “dada a nossa
curiosidade pelas histórias de vida e do percurso dos adultos com que lidávamos
nas formações.”
Fartas de ouvir sobre a falta de emprego em
Psicologia, área de formação de ambas, e de se questionarem sobre o futuro,
Cláudia e Paula decidiram aliar os seus conhecimentos e experiência profissional
para criar um projecto que lhes trouxesse uma maior realização pessoal e que
lhes permitisse trabalhar com os seniores, que, de acordo com os Censos de
2011, constituem 19,2% da população portuguesa (adultos com idade igual ou
superior a 65 anos). Um número que aumenta a cada dia. “Queríamos fazer algo
que gostássemos e que nos realizasse”, afirma Paula. Perceberam, então, que a
oferta na área da Psicogerontologia está em crescimento, por isso, arregaçaram
as mangas e “meteram mãos à obra”, até porque, tal como Cláudia afirma “no
futuro haverá mais oportunidades de trabalho nesta área, porque as necessidades
desta população assim o exigem”.
A ideia surgiu de um livro oferecido à Paula por
uma das suas formandas “onde estava incluída parte da sua história pessoal e
achámos interessante pensar no percurso de pessoas que têm histórias para
contar e que querem também mostrá-las a outras gerações.” Foi o momento em que
perceberam o que queriam fazer, como e para quem, sem negar a admiração pelo
público-alvo do Idades com história.
“Lidámos com pessoas de 60 e 70 anos que continuavam a investir em formação e
são pessoas activas. E foi com muitas dessas pessoas que até estabelecemos alguns
laços mais próximos, porque surpreendem-nos por serem tão capazes com aquela
idade, por se mostrarem com mais energia do que alguns jovens” assegura
Cláudia. Por sua vez, Paula refere: “gosto do contacto com as pessoas mais
velhas, porque em termos de conversa e discurso são muito interessantes.”
Aproveitaram uma situação de desemprego para, em
Maio de 2013, começarem a trabalhar afincadamente no projecto, que se encontra
dividido em três vertentes: as histórias de vida; os programas de promoção de
uma vida activa; e a consulta psicológica. Todo o trabalho é dirigido aos
seniores e aos seus cuidadores. A parte das histórias de vida, retratadas em
livro, é a mais trabalhosa, pois implica o planeamento e realização da
entrevista, passando pela produção e impressão da obra. Mas é ao mesmo tempo o
serviço mais solicitado. Por vezes são os próprios familiares a quererem
oferecer um presente especial aos seus avós e nada melhor que um personalizado
e adaptado livro, onde as memórias que estavam guardadas no baú ganham nova
vida. E é para as duas jovens a parte mais gratificante, como diz Paula: "as
pessoas emocionam-se quando falam connosco. Falam de coisas que já estavam
esquecidas. Com aquele fio condutor de contar a história desde que nasceu até
agora vão-se relembrando.” A reacção ao seu trabalho resume-se numa palavra
“emoção”. A Cláudia destaca o caso de um professor de yoga a quem dois alunos
ofereceram o livro: “disse que o trabalho está fantástico. Como é que da nossa
conversa de duas horas conseguimos elaborar este trabalho. Ele próprio tinha
dito que um dia ainda escrevia um livro, mas foi antes surpreendido quando
recebeu este. Disse que todas as pessoas a quem o mostrou gostaram imenso.”
Estabeleceram um horário de trabalho, no qual vão
realizando as várias tarefas que vão surgindo: tratam da divulgação da empresa
junto de instituições que lidam com a população sénior, respondem a
solicitações, preparam conferências, cujo objectivo “é sensibilizar para a
importância das histórias e memórias de vida – salientamos sempre a questão da
estimulação cognitiva, que permite retardar alguns declínios típicos da
progressão da idade.” Apesar das dificuldades inerentes a qualquer projecto
novo e que pretende mudar mentalidades, o apoio tem sido constante,
principalmente por parte de um amigo especial a quem chamam o “padrinho” do Idades com história, Daniel Serrão, para quem criaram um
livro especial. O sucesso da obra é tal que o professor o leva para todo o
lado, chamando-lhe “a minha fotobiografia”. A este propósito, foram feitas mais
edições, numeradas e autografadas, para venda na livraria Lello, uma das mais
conceituadas da cidade do Porto e do país.
Com tudo isto, as duas meninas de sorriso fácil
sentem-se realizadas “embora com a consciência de que para ser o nosso projecto
de vida e tenha uma base sólida ainda há um longo percurso pela frente. O facto
de estarmos a trabalhar nós, para nós, a depender de nós é uma vantagem” afirma
Cláudia, tendo em Paula uma aliada não só no trabalho, mas também nos ideais: “é
recompensador fazermos o trabalho e depois termos o feedback das pessoas que
nos faz sentir muito bem e com vontade de fazer mais. No caso deste projecto
acabamos sempre por estar a ajudar alguém, quer com os livros, quer com as
consultas e mesmo nos workshops e nas formações. E isso é importante.”
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